A retração que aparece no horizonte dos próximos seis a doze meses não tem precedentes e o efeito desse choque sobre a economia global continua incerto, avisam os consultores e gestores ao redor do mundo. Os sinais dos mercados refletem ondas de extrema volatilidade, ora positivos, ora negativos, sob a influência das notícias do mundo científico e das intervenções dos diversos bancos centrais. As estimativas, entretanto, convergem de maneira consensual para uma profunda retração econômica global, tenha ela curta, média ou longa duração.

A rapidez dos impactos é tal que a agência classificadora de riscos Fitch Ratings foi obrigada a rever, no curto espaço de dez dias, sua previsão de “crescimento global lento” para divulgar, no dia 02 de abril, uma nova estimativa, desta vez apontando uma recessão em larga escala devido às disrupturas produzidas pela pandemia de Covid-19. A projeção agora é de que haja uma contração de 1,9% no crescimento econômico global em 2020. O resultado será puxado pelas retrações previstas nos EUA, Zona do Euro e Reino Unido, que deverão ter crescimentos negativos de respectivamente 3,3%, 4,2% e 3,9% no ano. 

A recuperação ensaiada pela China, diz a agência, será restringida pela recessão nas demais regiões; com isso, o crescimento anual do país poderá ficar abaixo de 2%. A perspectiva de queda no PIB mundial – GDP ou Gross Domestic Product – está em pé de igualdade com a da crise financeira mundial, “mas o impacto negativo imediato sobre a atividade econômica e os empregos no primeiro semestre deste ano será pior”, avisa o Economista-Chefe da Fitch Ratings, Brian Coulton.

A disseminação da pandemia e as ações necessárias para controlar o contágio ditaram a mudança de rumos nas análises da agência. Essa velocidade tornou essencial incorporar às avaliações, a partir de abril, o efeito dos lockdowns em larga escala na Europa e nos EUA, além de muitos outros países.  “Agora nós acreditamos que os lockdowns podem reduzir o GDP do segundo trimestre na Europa e nos EUA em 7% a 8%, ou 28% a 30% anualizados. Esta é uma queda trimestral sem precedentes em tempos de paz e é mais similar ao que ocorreu na China no primeiro trimestre deste ano”, detalha Coulton. 

Até que ponto a velocidade da pandemia continuará ditando as revisões e novas projeções?. Leia mais nesse link.

Contração de 4%

No Brasil, os economistas do BNP Paribas fizeram novo corte em suas projeções. Nesta terça-feira, dia 07 de abril, anunciaram uma contração de 4% para o PIB em 2020. As novas informações sobre a evolução dos casos e as ações do governo exigiram o ajuste da análise, explicam o Economista-Chefe da instituição no Brasil, Gustavo Arruda, e a economista Amabile Ferrazzoli. 

As medidas de isolamento necessárias, aponta o documento, poderão ter consequências econômicas severas, assim como deverá ocorrer nos demais países. Esta foi a segunda vez, desde o mês passado, que a equipe aumentou sua projeção de queda do PIB, que já havia saltado de 1% para 1,5% no dia 18 de março por conta da análise dos primeiros impactos da pandemia. 

“Agora passamos a esperar uma contração de 4% no PIB brasileiro devido ao surto do Covid-19. O governo anunciou diversas medidas fiscais e monetárias que podem representar 10% do PIB em novos gastos, antecipação de despesas ou adiamento de arrecadação fiscal”, dizem os economistas. Para 2020, a expectativa de déficit primário do orçamento passou a ser de R$ 515 bilhões ou cerca de 7,3% do PIB, enquanto a dívida bruta do país poderá atingir 90% do PIB. Mas o banco também trabalha com um cenário em que a dívida poderia chegar a 100% do PIB.

Martha Corazza

Photo by Erik Mclean on Unsplash
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