Os impactos ainda não mensurados da crise deflagrada pelo Covid-19, assim como a resposta global que será dada ao problema, já começam a preocupar os investidores de longo prazo no âmbito dos programas de sustentabilidade em todo o mundo. Nessa linha, o PRI – Principles for Responsible Investments, programa apoiado pela ONU, divulgou no final de março suas diretrizes para orientar o comportamento dos signatários em relação aos efeitos da pandemia.
A crise, avisa o organismo, vai muito além da grave questão de saúde pública, devendo atingir as mais diversas comunidades, suas economias e investimentos. Os investidores responsáveis podem e devem agir agora para ajudar a reduzir os impactos mais perigosos, incluindo o efeito direto sobre a saúde pública, a severidade da retração econômica e suas consequências, o aprofundamento da desigualdade social, e os resultados de todos esses fatores somados sobre a saúde mental das pessoas.
O PRI comunicou que irá trabalhar com os seus signatários para desenvolver o debate sobre o significado da pandemia para os investimentos responsáveis. Estão sendo estabelecidos grupos de participantes para coordenar as respostas dos investidores a partir de dois focos: o primeiro deles abordará uma resposta de curto prazo, garantindo que os critérios ASG – responsabilidade ambiental, social e de governança – permaneçam na linha de frente das decisões e atividades desses investidores. O segundo grupo tratará de uma futura recuperação econômica, considerando como o sistema financeiro deverá funcionar para assegurar retornos sustentáveis.
“Esses grupos irão encorajar e depois dar suporte a ações nas áreas de maior prioridade tanto para os investidores quanto para as companhias investidas e os governos. Vamos escrever aos signatários convidando-os a participarem do debate assim que os grupos forem abertos”, informa o comunicado do PRI. As comunicações serão atualizadas periodicamente e os signatários interessados em participar poderão encontrar informações adicionais na PRI Collaboration Platform.
A crise do coronavírus, explica o comunicado, impactará todos os investidores e seus beneficiários, independentemente de suas estratégias ou de seu papel na cadeia de investimentos global. As respostas, portanto, terão que ser encontradas com base no princípio de que a integridade sistêmica e a busca por retornos universais de longo prazo são mais importantes do que a performance relativa de uma companhia.
A despeito das pressões por liquidez enfrentadas por gestores e proprietários de ativos e das pressões diante do declínio das receitas provenientes de taxas num mercado em constante baixa, o conceito a ser seguido pelo investidor responsável não pode mudar. “Os signatários do PRI podem e devem responder usando sua influência junto às companhias e aos governos e isso deve permear todas as suas decisões de investimento.”
O que significa que eles precisarão apoiar as companhias sustentáveis durante a crise, no interesse da saúde pública e da performance econômica de longo prazo, ainda que isso venha a limitar seus retornos de curto prazo. Este é, afinal, o momento em que o compromisso assumido pelos signatários de programas ASG ficará mais transparente do que nunca.
As sete primeiras ações do investidor responsável junto às companhias são:
- Interagir com as companhias que estiverem falhando no gerenciamento da crise;
- Interagir nos casos em que riscos estiverem sendo escondidos atrás da crise ou agravados por ela;
- Rever as prioridades de interação em outros tópicos;
- Apoiar publicamente as respostas que reflitam em toda a economia;
- Participar de Assembléias Gerais Anuais virtuais;
- Ser receptivo às solicitações de apoio financeiro.
- Manter o foco do longo prazo ao tomar uma decisão de investimento
Martha Corazza
Foto: Branimir Balogović, Unsplash
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